quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Uva líquida
















Insanamente eu bebo vinho.
Mas na taça cabe mais,
Muito mais que um líquido alucinante.
Dou mais um gole
Que me gela a boca
Esquenta a alma
Induz...
No baixo bate meu coração
Acelerado, ligado, vidrado.
Espero um beijo que não vem
Do sol na lua,
Estúpida
Solitária
Sozinha como eu.
Apartamento pequeno
Pra tanta vontade...
De idade
Que é fugaz.
Amadurece
no desejo amargo
Disfarçado
De doce.
Solidão.
A cama?
Vazia.
A cozinha?
Nem de dia.
No banheiro?
Água fria.
Será que o sol irradia?
O vinho acabou.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Luz da Noite













Minuciosamente o relógio aponta um ângulo de 90° graus.
90° graus do lado oposto.
É noite,
Hora de celebrar meus pensamentos.
Proponho um brinde!
Brindo o silêncio que me permite sorrateiramente...
concatenar palavras.
O estouro da garrafa de champagne,
a taça, a espuma hipnotizando...
um bom e velho blues no rádio.
Cenário perfeito para "poetisar".
Abro a janela e um vento catabático invade sem pedir licença.
Me toma, me toca, induz ao suspiro.
No céu, um olho brilhante me observa,
único, sublime, feiticeiro.
Me rendo às quimeras da noite.
Noite...
Desejo dos amantes, dos músicos, dos solitários.
Procurada, desejada e odiada,
a mais misteriosa e enigmática das mulheres.
Noite longa para os que a esperam,
efêmera aos que dela degustam.
Enquanto adoço a boca, ela passa,
enquanto escrevo, ela passa...
dança, brinca, disfarça.
Meus pensamentos fogem do foco,
tomam um atalho inesperado.
Me pego esperando o telefone tocar...
desvio o olhar quase conseguindo enganar.
Instinto, audácia, anelo...
Me ponho a viajar nas escalas do indevido.
Perigo!
Pensamentos inconstantes,
saudade intolerante...
Hora de respirar.
E num instante racional e sutil penso:
Hora de parar.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

TEXTURAS

Não te preocupes em me decifrar,
sou costurado com a linha da ambigüidade,
vestido de discursos de calar.
Não procure em mim suas verdades
minha bainha não foi feita,
toco em todas as texturas.
Minha cor não foi eleita,
sou camaleão sem cura.
Sou verso de intuição,
pergunta possível,
tentativa de explicação.
Meu verso é repleto de possibilidades,
não possuo seqüência,
não possuo métrica.
Sou cúmplice da dualidade,
rima anacrônica perdida na realidade.
Não te preocupes em me decifrar.

(Gabriela Marcondes)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Juízes?

Julgamos conhecer os outros
Conhecer os sentimentos
Na verdade somos loucos
Se nem a nós conhecemos


Julgamos discernir a própria felicidade
Então a aceitamos com os erros e falsidades
Utopia pobre e mentirosa
Impossível ser feliz sem liberdade


Julgamos ser livres, confinados no mundo “eu”
Apostando opiniões e ideais estipulados
Mas, como alcançar pleno êxito em tais convicções,
Se, pelo abuso do poder, somos todos manipulados?


Julgamos saber sonhar com nossos direitos
Abençoados com armas de nossa própria vaidade
Quando só venceremos menosprezando falsos efeitos
Então, não passamos de meros covardes.


Julgamos ter sempre as razões
E com ela, nos tornamos fortes para camuflar nossa crueldade
Tão fortes, porém maleáveis, nos rendemos ao orgulho
Que destrói essa tão desejada humildade.


Julgamos saber julgar...
Fingindo pena por nos sentirmos ameaçados
Nossa culpa nos entristece
Afinal, juízes ou condenados?


Em versos de Weslei GP

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Gente

Aqui, lá, acolá
Por todo lugar...
A se movimentar está.


Gente que se arrisca;
Imprudente.





Que se apaixona;
perdidamente.










Que se expõe;
Indecente.




Que rouba sonhos;
Delinqüente.






Que quebra a cabeça;
Inteligente.



Que digladia;
Insolente







Gente que implora por gente;
Carente.





Gente que quer, quer, quer...;
Incessantemente.







Gente que ora às seis horas;
Religiosamente




Que não corre, apenas caminha;
Calmamente









Gente que sorri;
Só ri




Gente que não é gente;
Indigente





Gente que se abraça;
Fraternalmente


Gente autoritária,
Gente que manda e desmanda;
Intransigente









Que ama e simplesmente ama;
Incondicionalmente


Gente que gera gentileza;
Bondosamente









Gente que toca, que dança,
que exala notas e encanta;
Musicalmente




Gente feliz,
Que não espera,
Que faz acontecer







Que ama a si e reverencia a vida,
Diariamente







Gente...
como a gente.







Ilustrado por Sandro Farias.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Santa, querida, Teresa!


Uma leve brisa acaricia Santa.
Oh, Santa!
Delicada,
Sagrada;
Profana...
Santa dos pássaros, do verde e das Ikebanas.
Santa democrática
Dos Punks, Hippies e Baianas,
Do Brasil, da França, Italiana.
Santa musical, Boêmia, sensual.
Do sambinha na praça;
Do forrozinho que encaixa;
Do reggae na boa.
Santa do bondinho amarelinho,
Fotografado e disputado,
Do olhar curioso e encantando de seus turistas
A deslizar sobre os arcos.
Santa ímpar;
eminente;
Charmosa e romanticamente atraente.
Santa literária,
Poética,
Artesanal.
Santa rústica
De épicas e antológicas luminárias,
Do sapê,
Dos bares multicoloridos,
Das zonas norte, sul, oeste e favelada,
Da embolada,
Do samba de roda;
Da Piña Colada.
Santa de minh’alma, és tu,
Por mim devotada,
Bairro do meu coração,
Minha dócil,
Santa Teresa!


quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Poesia



De alegria
De dor
De nostalgia
Dos amantes e amadores.
Poesia carnal, fatal, visceral.
De chama boêmia
Dos copos que brindam,
Dos corpos que brincam,
Das falas arrastadas,
Dos encontros e desencontros.
Do blues, da bossa, do acorde qualquer.
Do profundo e do superficial.
Poesia de noite,
Poesia de dia;
todo dia.
Poesia de amor, de ódio, de saudades...
Simples, complexas, completas.
Poesia falada, cantada, escrita;
De um suspiro dispensado no ar,
Que acerta a certa receita do encantamento.
Poesia malandra
De rua, becos e quebradas.
Poesia de criança,
Dos brinquedos, das cirandas,
Das fábulas fantásticas,
Do lúdico e puro espírito infantil.
Poesia de trabalhador
Da marmita ao restaurante
Do macacão ao terno
Do suor ao suor, na labuta,
O mesmo valor.
Poesia de amizade
De feliz irmandade
De fidelidade e companheirismo.
Poesia de todos nós,
Poetas e poetisas
De hoje e de outrora,
Agraciados pela magia da simplicidade.